Pessoas brigando, móveis quebrando, uma cacofonia estridente que era escutada e vista do corredor do primeiro andar.
—Quando isso vai parar?—perguntou a Jovem Desafortunada para si mesma.
Não havia nada de bom ou bonito a sua volta. Essa era sua realidade por anos, e ainda assim não podia se acostumar com tal ambiente.
—Não se preocupe, querido. Isso não é problema nosso.
A Jovem Desafortunada pode ouvir uma voz familiar. Uma amiga de tempos mais felizes, estava agora gargalhando aos ventos, abraçada com um homem tão desprezível e volátil como aqueles que estavam brigando no andar de baixo.
—NÃO ACREDITO—esbravejou a Jovem Desafortunada—COMO VOCÊ TEVE CORAGEM DE ESTAR COM...ESSA PESSOA?
A amiga não movei um músculo ou mudou sua expressão indiferente.
—Oque você esperava?—perguntou a amiga—estou cansada de lutar contra o que não pode ser detido. Me juntando a esse 'caos' ao menos tiro vantagem.
—De outras pessoas.—a Jovem Desafortunada estava desgostosa—de pessoas como eu. Como nós.
—Ao menos dessa vez, sou eu que saio ganhando. Não acha justo?
A Jovem Desafortunada derramava lágrimas pesadas. Raiva e rancor pelo que acabou de escutar. Disposta a desistir de tudo e todos, ela vai em direção a saída da frente.
—ESPERA, DRAMÁTICA!—disse o Homem Desprezível—Quer ser feliz? Entra por aquela porta.
—Porque tá preocupado comigo—indagou cautelosamente.
—Não dou a mínima para você—disse desdenhando—só te quero longe. Esse seu altruísmo me irrita.
A Jovem Desafortunada olhou para um grande portão de madeira clara com ferrolhos de prata. Havia uma suave brisa passando pelas frestas da madeira com um forte aroma de dama-da-noite.
—Depois que você passar por essa porta, não vejo mais motivos para deixá-la aberta.—afirmou o Homem Desprezível.
A Jovem Desafortunada não via motivos para ter receio. Afinal, qualquer lugar era melhor que ali. Ela puxou os ferrolhos com força, fazendo com que a porta desse uma leve rangida. Passando pelo umbral, a porta fechou com violência. Abrindo os olhos, a Jovem Desafortunada notou estava no mesmo lugar, porém estava tudo limpo e bem-arrumado. Ao olhar para baixo, viu que o pátio onde estava tendo as brigas extremamente violentas, haviam mesas arrumadas com vasos de orquídeas, um pequeno altar e uma imensa árvore com luzes e um banco circular em volta. O perfume de dama-da-noite que estava no por toda a área externa do corredor, se mesclava com a brisa quente da noite. Uma sensação tão aconchegante e familiar, como algo que ela esperou por toda a vida. Pondo um pouco mais de atenção, ela conseguia ouvir dois homens conversando na esquina do corredor.
—Tenho ótimas notícias, meu caro—disse um homem de meia-idade.
—Meus queridos filhos já estão prontos?—perguntou o outro homem.
—Bem, sim. Mas não era isso que iria dizer.—o senhor pausou a fala olhando para a Jovem Desafortunada—Ela chegou.
O homem se virou rapidamente e ela pode vê-lo com mais clareza. Um homem alto de olhos como jade, seus cabelos ruivos que chegavam aos ombros estavam presos na nuca, sua pele era adornada por inúmeras sardas. Ele vestia um terno cor chumbo e no bolso, havia um lenço azul com uma rosa prateada bordada.
—Meu amor! Você está linda.—disse o Jovem Ruivo a abraçando—a espera realmente valeu a pena.
Seu abraço era forte, porém carinhoso e encheu o coração da Jovem Desafortunada de alegria. Alegria essa que transbordou.
—EI! Meu amor, não chora—disse o Jovem Ruivo preocupado—O que aconteceu?
—Eu não sei—disse entre soluços—simplesmente precisei chorar, mas não estou triste.
—Isso é ótimo—disse o Jovem Ruivo passando o polegar perto dos olhos da Jovem.
—MAMÁ!—disse três vozes em conjunto.
Três jovens lindos. Um garoto de uns dez anos, olhos castanhos, ruivo com a pele levemente bronzeada. Outro garoto de oito anos, cabelos negros, olhos verdes e muitas sardas e utilizava um aparelho auditivo. Por último a mais velha, longos cabelos castanhos, olhos azuis e muitas sardas, ela se vestia de modo elegante, diferente de seus irmãos.
—Sinto muito, Mamá—disse a moça—eu disse para eles não correrem.
—Não…digo, tudo bem!—a Jovem Desafortunada tentou formular a frase—Só tomem cuidado.
—Vamos—disse o pequeno moreno—a Nonna tá lá em baixo.
Eles correram até o andar de baixo onde as pessoas se reuniam com os mais velhos
—Te espero lá em baixo, mi Cielo—disse o Jovem Ruivo
A Jovem Desafortunada ficou estática. Ela sentia que aquilo tudo pertencia a ela, mas, ao mesmo tempo sentia que algo estava fora de lugar. Ela pensava a respeito enquanto descia as escadas indo em direção ao banco da árvore.
—Isso é tão estranho-disse a Jovem Desafortunada para si—Isso não pode ser real…pode?
—Porque não—disse um conjunto de vozes sussurrando no topo da arvore—você está aqui, não é?
—Isso é real—hesitou—ou é um sonho?
—Isso importa?—perguntaram as vozes—Agora você é feliz. Aproveita.
A Jovem Desafortunada olhou a sua volta. Não haviam mais vozes alteradas, pessoas gritando ou algo sendo partido. As pessoas estavam alegres festejando…estavam felizes por ela. Porque isso seria algo ruim?
—Antes da cerimônia começar—disse a mãe da Jovem—acho que os noivos podem dançar a valsa primeiro.
Dito e feito. Ambos fizeram uma reverência e começaram a dança. Tão suave como uma pena ao vento. Quando a música se pôs mais lenta, a Jovem Desafortunada apoiou sua cabeça no ombro do homem e respirou fundo
'O aroma de dama da noite vem dele' pensou consigo.
—Está feliz?—perguntou o Jovem Ruivo.
—Tanto que poderia chorar—respondeu a Jovem Desafortunada.
Talvez ela chore quando acordar, ou talvez se mantenha nesse mundo de pura ilusão. Afinal qual a diferença entre sonhos e realidade se elas flutuam na mesma linha delicada da sanidade?